quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Marisqueiros do Recôncavo baiano








Mariscar é hoje uma alternativa de trabalho e de alimentação para boa parte da população de baixa renda e pouca escolaridade.
De acordo com a Federação dos Pescadores do Estado da Bahia, atualmente 20 mil pessoas trabalham como marisqueiros. O local mais propício para a mariscagem é no recôncavo, onde eles tiram o sustento para a sobrevivência. Os mariscos são até hoje a única fonte gratuita de proteínas que essas pessoas de baixa renda têm. O lado bom de ser marisqueiro é que não existe tempo ruim, todo dia é dia de pesca, mesmo que existam dias melhores, mas não há aqueles em que não se consegue nada.

O lado ruim é ter de continuar trabalhando com os calos e cicatrizes de cortes nas mãos e nos pés que se transformaram em marca registrada da vida dura dos marisqueiro Nos mangues de Santo Amaro da Purificação e Nazaré das Farinhas, os marisqueiros conseguem retirar ostras, marias-pretas, aratus, chumbinhos, rala-cocos e sururus.
Mas não basta apenas a ajuda da colher de pedreiro para desenterrar os mariscos, é preciso saber o período certo para fazer a pescaria. “Lua nova dá marisco grande, lua cheia, dá marisco grande e lua minguante e crescente não dão”, garantiu Aílde Costa, de 52 anos, que aprendeu a mariscar aos seis anos com a mãe e com esse trabalho conseguiu colocar o filho para concluir o ensino médio.
Segundo o arqueólogo e professor da Faculdade de Filosofia e Ciência Humanas da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Carlos Etchevame, a coleta de mariscos é a primeira atividade econômica de que se tem notícia no litoral baiano e a profissão já era praticadapelos índios há 2.800 anos. “Se em todos os lugares do Brasil fosse possível extrair com as próprias mãos tudo o que a terra oferece, muitas pessoas não morreriam de fome”, acrescentou o professor.

Nos mangues do recôncavo baiano, normalmente a pesca é feita por mulheres, com mais de cinqüenta anos, algumas já aposentadas. Por conta da idade elas encontram algumas dificuldades para trabalhar, como o excesso de peso da pescaria e os insetos, muruíns e mutucas que mordem na hora da pesca. Dona Nair Batista, 68, marisqueira de São João do Cabrito, no Subúrbio Ferroviário, consegue pescar meio quilo de marisco por dia que é vendido a três reais. “Outro dia fui parar na emergência do hospital. Fui trazer uma panela pesada da praia, cheia de chumbinhos, e me senti mal”, revelou a marisqueira. O quilo do pescado varia entre três e sete reais, independente de qual seja o marisco.
Devido à falta de emprego e baixa escolaridade da população mais carente, as pessoas estão buscando trabalhos que necessitam mais de esforço físico do que conhecimento técnico. Mas como há uma grande quantidade de pessoas procurando trabalho, os mangues não estão dando mais para todos. “Porque o que tira e não bota só pode acabar, né? A comunidade vai aumentando, vai crescendo e os rapazinhos e as mocinhas não têm outro setor, outro trabalho, só pode trabalhar nisso ai, né? Aí vai diminuindo, porque vai multiplicando o número de pessoas trabalhando”, lamenta a aposentada , Cleonice Santos que tem carteira de marisqueira, de Baiacu, Itaparica.
Maurício dos Santos é uma prova de que os jovens, por falta de opção, acabam se inserindo também nesse “mercado”. Com 21 anos ele marisca de vez em quando para se manter e além da mariscagem alterna com outros serviços. No período de alta estação, ele consegue um trocado carregando as malas dos turistas. As marisqueiras contribuem com oito reais mensais para que a Federação dos Pescadores as ajudem no processo da aposentadoriaGraças a um movimento social que aconteceu na Bahia, marisqueiras de todo o país têm seus direitos assegurados, mas muitas não sabem que benefícios, como auxílio doença e auxilio maternidade, estão garantidos desde 1978.
Para se aposentar como trabalhadoras autônomas, é preciso ter pelo menos 55 anos e provar que nos últimos 10 anos vinham trabalhando somente como marisqueiras. “Estar associada à colônia de Pesca facilita e adianta o processo de aposentadoria porque, caso contrário, o Ministério da Agricultura vai ter que fazer uma investigação para saber se a pessoa vinha mesmo trabalhando na atividade”, revelou José Carlos de Jesus Rodrigues, presidente da Federação dos Pescadores do Estado da Bahia.
Fotos: Internet

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